
“E abriram-se os livros, e abriu-se outro livro, que é o livro da Vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras”. Apoc. 20; 12.
No estado em que me achava, meio acordado, meio dormindo, me vi dentro de uma sala. Não existia nada de interessante nela, exceto uma parede cheia de gavetas para cartões. Aqueles cartões que existem em bibliotecas publicas, de arquivo de livros, etc. Mas estes arquivos, além de irem do chão ao teto, pareciam não ter fim e tinham também títulos bem diferentes. De repente, sem ninguém precisar me dizer, descobri onde estava. Esta sala sem vida era, na realidade, o catálogo da minha vida. Aqui estava tudo organizado por ações, todos os meus momentos, grandes e pequenos, em detalhes que minha mente não podia acompanhar. Um senso de curiosidade e espanto, misturado com horror surgia dentro de mim ao abrir cada gaveta para descobrir seu conteúdo. Algumas me traziam belas alegrias e contentamento, saudade e memórias. Outras me traziam uma vergonha tão grande que olhei por detrás de mim para ver se havia alguém me espiando. O arquivo intitulado “Amigos” estava ao lado do arquivo “Amigos que traí”. Os títulos iam do mero mundano à extrema loucura: “livros que li”, “Mentiras que contei”, “Conselhos que dei”, “Piadas das quais ri”. Alguns eram hilariantes devido a sua exatidão: “Coisas que gritei aos meus irmãos”. Em outros não havia a menor graça: ”Coisas que fiz quando estava com raiva”, “Palavras que proferi contra meus pais por trás dele”. Eu não parava de me surpreender com cada conteúdo que se apresentava. Alguns arquivos tinham normalmente mais cartões do que eu esperava. E outras vezes, menos do que eu sonhava. Eu estava estupefato com o volume de coisas que fiz durante minha curta vida. Como eu pude ter tido o tempo necessário para escrever esses milhões e milhões de cartões, cada um em sua exatidão?!? Mas cada cartão confirmava uma verdade. Cada um deles eu havia escrito com meu próprio punho e constava a minha assinatura em todos. Quando puxei o arquivo “Erros que cometi”, vi que o arquivo crescia para conter todo o seu conteúdo. Depois de puxar uns 4 ou 5 metros resolvi fechá-lo mais envergonhado do que nunca. Não somente pela qualidade depravada do seu conteúdo, pelas pessoas que magoei e também pelo vasto tempo perdido em minha vida que todo aquele arquivo representava. Cheguei então num arquivo intitulado “Atitudes imorais”. Senti um calafrio percorrer todo o meu corpo. Abri a gaveta somente um pouquinho, pois não estava a fim de testar o tamanho, e tirei um dos cartões. Fiquei todo arrepiado com o conteúdo. Senti-me muito mal em saber que estes momentos haviam sido gravados. Uma raiva animal tomou conta de mim. Um pensamento então me disse: “Ninguém deve saber da existência desses cartões! Ninguém deve entrar desta sala! Tenho que destruir tudo!”. Em frenéticos e loucos movimentos puxaram uma das gavetas, estendendo metros e metros de conteúdo infinito. O tamanho do arquivo não importava. Nem o tempo que eu levaria para destruí-lo. Quando a gaveta saiu, joguei-a no chão, de cabeça para baixo, e descobri que todos os cartões estavam grudados! Fiquei desesperado e peguei um bolo de cartões para rasgá-los. Não consegui. Peguei um só então. Era duro como aço quando tentei rasgá-lo. Derrotado e cansado, retornei a gaveta de volta ao seu lugar e encostando minha cabeça contra a parede, deixei um triste suspiro sair de mim. Foi então que eu vi: um arquivo novo, como se nunca tivesse sido usado. A argolinha para puxar brilhando de limpa debaixo do titulo “Pessoas com quem falei de Cristo”. Puxei o arquivo – 5 centímetros de comprimento. Eu podia contar os cartõezinhos em minha mão. Aí, então, as lágrimas vieram. Comecei a chorar. Soluços tão profundos que machucavam meu estômago e me faziam tremer todo. Caí de joelhos e chorei mais e mais. Chorei de vergonha, de pura vergonha. A infinita parede de arquivos, já embaçada pelas minhas lágrimas olhava de volta para mim, imóvel, insensível. Pensei: ”Ninguém pode entrar aqui. Tenho que trancar esta sala e destruir ou esconder a chave”. Quando tentava enxugar as lágrimas eu o vi. Não! Ele não! Não aqui! Todo mundo, menos Jesus!...
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